...cores da minha vida!"
Como não tinha percebido antes?
Há uma cor para cada fase da vida, para as faces do mundo interior, e para a natureza.
No inicio da vida adulta a descoberta do lilás: mistura equilibrada de rosa e azul claro, a combinação perfeita para definir o encontro do masculino e femino. Lilás nas cortinas e na cama. E a profunda busca de encontrar a alma irmã, o lado azul claro que me faltava...
Os tons das folhas dos plátanos em todas as suas variações sempre definiram o estado de espírito da estação. Nas ruas de Porto Alegre, as folhas no chão indicavam que o semestre estava próximo de terminar, e com ele as temíveis provas da Escola de Engenharia.
Na época, os irmãos Kleiton e Kledir, começavam a estrear seus primeiros passos na música, e Kleiton, meu colega de sala na Escola de Engenharia da UFGRS, chegava de olhos vermelhos, com cara de quem dormiu pouco. Tinhamos isso em comum: ele passava as noites em sonhos de música, e eu somava cheques numa fria sala da CEF.
O resultado era o mesmo: ambos bocejando e com os olhos vermelhos, tentanto compreender as demonstrações de teoremas impostas pelo Cálculo III, que aos poucos ficavam distantes, remotas, impalpáveis... E a voz do professor ia tomando entonações suaves, melodiosas e que embalavam um cochilo duramente reprimido quando percebido. E tudo era meio pálido, em tons pasteis, de olhos com dificuldade para fazer a diferença entre as cores.
O branco e preto, numa fase já mais recente, minimalista, de quem já sabe o que quer e não precisa se perder nos detalhes...
Os tons de terra, como simbolo do aconchego, do carinho, do desejo de dividir. O amarelo do ipê, alegria isolada no mês de agosto.
Cores do meu mundo... Cores da minha vida...
Kleiton e Kledir
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Trem das Cores
Caetano Veloso
A franja da encosta, cor de laranja
Capim rosa chá
O mel desses olhos luz
Mel de cor ímpar
O ouro ainda não bem verde da serra
A prata do trem
A lua e a estrela
Anel de turquesa
Os átomos todos dançam
Madruga, reluz neblina
Crianças cor de romã entram no vaguão
O oliva da nuvem chumbo ficando pra trás da manhã
E a seda azul do papel que envolve a maçã
As casas tão verde e rosa
Que vão passando ao nos ver passar
Os dois lados da janela
E aquela num tom de azul quase inexistente
Azul que não há
Azul que é pura memória de algum lugar
Teu cabelo preto, explícito objeto
Castanhos lábios
Ou pra ser exato lábios cor de açaí
E assim trem das cores
Sábios projetos tocar na central
E o céu de um azul celeste, celestial
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