segunda-feira, novembro 03, 2003

Manon des Sources

Aos poucos a pequena gatinha Manon está entrando na nossa vida, com sua alegria infantil. Nos seus quase dois meses de vida tem a alegria e a despreocupação de todos os filhotinhos. Dentro de dez meses será adulta e se tornará circunspecta e observadora, quieta e orgulhosa como a maioria dos animais de sua raça.

Perguntaram-me recentemente a origem do nome Manon. É um nome forte, cheio de significados.

A primeira vez que ouvi esse nome foi no livro "Manon Lescaut" escrito pelo Abade Prévost. Muito depois, o livro inspirou a terceira ópera de Giacomo Puccini, que conservou o mesmo nome do romance e que, pelo seu teor romanesco, fez grande sucesso.

Mas nos romances de Marcel Pagnol que o nome me marcou. Pagnol compôs seu romance em duas partes: Jean de Florette e Manon des Sources, ambos transformados em filmes.

Também no cinema Jean de Florette é a primeira parte de uma história que se passa na zona rural francesa nos anos 20. A parte dois é Manon des Sources, quando a garotinha já é uma moça, vivida pela belíssima Emmanuelle Béart. Em Jean de Florette, Gerárd Depardieu e Yves Montand arrasam com suas interpretações inesquecíveis.

O filme é uma lição sobre a ganância, a natureza humana e como coisas ruins acontecem com pessoas boas. Jean de Florette é um homem urbano, cheio de idéias como cultivar seu terreno e criar coelhos. Sua paixão pela vida transparece na brilhante atuação de Depardieu, que nos emociona ao vê-lo sofrer para conseguir realizar seus sonhos. E Manon é a filhinha que acompanha o sofrimento do pai e que mais tarde vai se vingar duramente.

Compramos os dois volumes dos livros no BHV em 94. Tradicionalmente sempre contei estórias para minhas filhas, todas as noites, a maioria delas criadas na hora H e em geral com vários capítulos que estendiam os percalços dos personagens por semanas. Com o tempo e a idade das meninas, as estórias começaram a se basear em romances. Foi assim que a estória de Manon chegou a nossa casa, em capítulos diários, lidos na véspera e recontados no dia seguinte.

Estávamos em férias escolares e a ansiedade das meninas pela estória foi memorável, talvez mais intensa do que com as outras. As desventuras de Jean de Florette e mais á frente de Manon, povoaram nossa imaginação por muito tempo.

Em 97 fomos ao Luberon, onde Pagnol ambientou seu romance cheio de referências ao clima e à vegetação da região. Eu queria imensamente ver os campos da região de Provence, as plantações de lavanda e as encostas cheias de pedregulhos e oliveiras.

A região do Luberon é um pedacinho no coração da Provence que tem uma característica muito própria, mas que de alguma forma dialoga com a região do cerrado no Brasil. Lá como cá são abundantes as ervas e os cheiros. Também é comum a cor palha da vegetação que conhecemos tão bem por aqui no final da temporada da seca. E Pagnol nos envolve nesse sentimento de sequidão da terra e da alma, na pequenez de alguns seres humanos e, principalmente, nas possibilidades de alegria às quais renunciamos sem sequer reconhecer sua existência.



Cartaz do filme Manon des Sources



Imagens da Provence

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