terça-feira, setembro 02, 2003

Das cores

"cores do meu mundo...
...cores da minha vida!"



Como não tinha percebido antes?

Há uma cor para cada fase da vida, para as faces do mundo interior, e para a natureza.

No inicio da vida adulta a descoberta do lilás: mistura equilibrada de rosa e azul claro, a combinação perfeita para definir o encontro do masculino e femino. Lilás nas cortinas e na cama. E a profunda busca de encontrar a alma irmã, o lado azul claro que me faltava...

Os tons das folhas dos plátanos em todas as suas variações sempre definiram o estado de espírito da estação. Nas ruas de Porto Alegre, as folhas no chão indicavam que o semestre estava próximo de terminar, e com ele as temíveis provas da Escola de Engenharia.

Na época, os irmãos Kleiton e Kledir, começavam a estrear seus primeiros passos na música, e Kleiton, meu colega de sala na Escola de Engenharia da UFGRS, chegava de olhos vermelhos, com cara de quem dormiu pouco. Tinhamos isso em comum: ele passava as noites em sonhos de música, e eu somava cheques numa fria sala da CEF.

O resultado era o mesmo: ambos bocejando e com os olhos vermelhos, tentanto compreender as demonstrações de teoremas impostas pelo Cálculo III, que aos poucos ficavam distantes, remotas, impalpáveis... E a voz do professor ia tomando entonações suaves, melodiosas e que embalavam um cochilo duramente reprimido quando percebido. E tudo era meio pálido, em tons pasteis, de olhos com dificuldade para fazer a diferença entre as cores.

O branco e preto, numa fase já mais recente, minimalista, de quem já sabe o que quer e não precisa se perder nos detalhes...

Os tons de terra, como simbolo do aconchego, do carinho, do desejo de dividir. O amarelo do ipê, alegria isolada no mês de agosto.

Cores do meu mundo... Cores da minha vida...



Kleiton e Kledir
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Trem das Cores
Caetano Veloso

A franja da encosta, cor de laranja
Capim rosa chá

O mel desses olhos luz
Mel de cor ímpar

O ouro ainda não bem verde da serra
A prata do trem
A lua e a estrela
Anel de turquesa

Os átomos todos dançam
Madruga, reluz neblina

Crianças cor de romã entram no vaguão

O oliva da nuvem chumbo ficando pra trás da manhã
E a seda azul do papel que envolve a maçã

As casas tão verde e rosa
Que vão passando ao nos ver passar
Os dois lados da janela

E aquela num tom de azul quase inexistente
Azul que não há
Azul que é pura memória de algum lugar

Teu cabelo preto, explícito objeto
Castanhos lábios
Ou pra ser exato lábios cor de açaí

E assim trem das cores
Sábios projetos tocar na central
E o céu de um azul celeste, celestial


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