domingo, agosto 10, 2003

De agosto

Agosto acentua o estado de hibernação da natureza. A cor de palha, o ar de fumaça, a sensação de tudo seco. Apesar de ser inverno o sol não é para marinheiro de primeira viagem.

A paisagem está em compasso de espera, e dormindo sob a terra, os bulbos aguardam...

A maior parte da minha vida convivi com essa angustiante espera da chuva que tarda, bem típica da região centro-oeste.

Não há paralelo possível com a sensação das árvores nuas do Sul, onde convivi com inverno de verdade, frio, cinza e chuvoso.

Aqui e ali, em atitude afrontosa com a grama seca, uma ou outra árvore exibe sua flores num suave tom lilás. Muitas preservam as folhas e algumas chegam a esnobar um verde tenro, sabe Deus por que meios.



Mas sobre todas as cores predominam os tons de palha, seco, suave, semi morto.

E há um peso sobre o ar, sobre as pessoas, como se toda a natureza se ressentisse de sede constante.

Nas pequenas cidades do interior, redemoinhos de vento levantam uma poeira vermelha, misturada com cinza, que depois vem se espalhar nos balcões onde os mosquitos disputam algumas gotas que cairam dos copos.

O gato da casa dorme a maior parte do tempo, sem disposição para incomodar seus inimigos. O zumbido de uma mosca mostra que há vida sob essa morte aparente.

Ainda tardará a primeira chuva, que lava o ar, as folhas das arvores, os tetos das casas, a alma das pessoas. E depois, só bem depois, quase dezembro, vêm as chuvas de verão, fortes, potentes, agressivas.

Daqui até lá, os dias se arrastam, como se tivessem piedade de si mesmos...


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