sábado, outubro 18, 2003

Balzac e Manon




Balzac entrou na nossa vida por acidente.

Há seis anos atrás Princesa, a gata da casa, morreu afogada na piscina, pois um acidente a deixara cega emeio incapacitada. Era uma persinha puro sangue, de um cinza azulado, oficialmente tida como de cor fumaça, olhos cor de cobre e de uma beleza rara. Tinha a personalidade de acordo com seu nome. Era mesmo uma Princesa, no porte, na postura e na preguiça, como quem sabia que a comida apareceria em seu prato a tempo e hora.

Cecilia, à época com 12 anos, abriu a janela no domingo de manhã e viu boiando um objeto peludo. Pressentindo o desastre, saiu correndo e gritando. Tarde demais.

Aquele domingo transcorreu com olhos vermelhos e fungados de toda a família. Ainda por cima o Beto ia para Manuas a trabalho naquela noite, ficando fora toda a semana.

Na segunda feira, as lágrimas de Cecília e Maíra se juntaram aos suspiros da Sônia, nossa secretária há mais de dez anos.

Para acelerar a mudança de astral pensei num plano simples: comprar um outro filhotinho. No horário de almoço vasculhei o jornal de cabo a rabo e nada de filhotes de gato. Várias ligações para lojas especializadas sem sucesso. Duas horas depois e já sem esperanças concluí que pouca gente compra e vende gatos, só há disponibilidade de filhotes de cachorro, pelo menos em Goiânia. De repente me passou uma idéia louca pela cabeça: e se fosse um cachorrinho? Desde que fosse educado e bem comportado, seria uma experência nova e interessante numa casa que, até então, só abrigara felinos.

O veterinário, nosso amigo que ajudara a salvar a vida de Princesa quando do acidente que a deixou cega, recomendou procurar um filhote da raça Collie.

Foi assim que ele chegou em casa: fofinho, moleque, alegre, um encanto. O nome foi escolhido rapidamente: Balzac. Nome curto, fácil de pronunciar e representativo para toda a família. Em pouco tempo se tornou o filho mais novo e o centro das atenções de todos na casa. Educadíssimo e obediente, nunca deu trabalho. Respeita os limites estabelecidos apesar da carência ancestral. Se humilha sem nenhum pudor se for por um agrado ou afago. Tosse como um condenado com a fumaça de charuto que, ocasionalmente, é obrigado a suportar para ficar ao lado do dono.

E agora, também por acidente, Manon vai entrar na família. Vira lata de raça pura, preta e branca, tem os olhos mais doces que uma gatinha pode ter. Sem lenço e sem documento, é filha de uma gata de rua, mendiga. Não tem mais que um mês de vida, e terá que se defender de eventuais ataques de ciúme do Balzac, não muito amigo de felinos, pássaros e aviões, que ele crê que tem obrigação de afugentar com latidos fortes e ameaçadores.

Nenhum comentário: